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O processo de tornar-se borboleta, reflexões sobre o processo terapêutico
19 de dez. de 2024
Você sabe o que acontece dentro do casulo durante a metamorfose de uma borboleta?
Pouco se fala sobre o processo de tornar-se borboleta.
Erroneamente acredita-se que no casulo, a lagarta repousa e dorme, até o momento em que se despertará para inaugurar a vida com suas belas asas coloridas.
É, pouco se fala do processo e tornar-se borboleta. Porque dentro do casulo, não existe sono.
Dentro do casulo, a lagarta inicia uma viagem árdua e penosa.
Os caminhos são tortuosos, subidas e descidas íngremes de solo escorregadio e pedregulhento. Nessa caminhada ela cai, machuca seu corpo…
Não o bastante; ainda precisa se haver com seres mal intencionados. Trava batalhas, com dragões, ogros e demônios.
Dentro do casulo, se passam horas, semanas, as vezes meses de batalha interior.
A lagarta se cansa, mas não desiste, ela persiste e nota que a cada passo que dá, aprende uma lição.
Uma lição sobre si, sobre o outro, sobre a vida.
Ela reflete sobre ser lagarta, sempre vulnerável, se escondendo, juntando forças com medo de ser atacada em qualquer momento. A vida de uma lagarta é sobreviver, não há descanso, não há paz. Tudo é ameaça.
A lagarta reflete sobre si, reconhece que alguns seres mal intencionados fazem parte dela mesma.
Chora, desabafa, se sente cansada, mas continua!
O caminho é árduo, mas ela continua. Se questiona se a caminhada vale mesmo a pena.
Ela continua.
Seria uma pena não saber a resposta.
Cansada, mas corajosa, ela continua.
Na última subida, escabrosa e escorregadia, a lagarta se dá conta de sua trajetória. Reconhece cada cicatriz e venera sua própria força.
No pico do morro, ela avista um feixe de luz, mas não questiona se chegou ou não ao final daquela jornada.
Apenas contempla o calor gentil do sol, em seu rosto de lagarta.
Ela se assenta, para aproveitar cada segundo daquele momento divino.
Com os olhos fechados, respira fundo, até que escuta um barulho crepitante.
Eram estalos, algo se estava rompendo.
Era o seu casulo.
O sol ficou ainda mais presente, mais quente. Seu corpo se aquecia, as asas secavam se abriam em um lindo azul.
A lagarta se descobriu borboleta.
Esplêndida! Colorida, perfeitamente imperfeita como tudo o que é natural.
A borboleta se integra à lagarta.
Agora não precisa sobreviver, pode enfim, viver. A travessia está feita.
Voa livre, voa com coragem.
Está pronta para as novas travessias da vida.
Autora: Bárbara Hirle
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