O Silêncio que Adoece: O Preço da Performance Masculina na Saúde Mental dos Homens

18 de ago. de 2025

Descubra como a pressão para ser o provedor e a repressão de emoções levam a um sofrimento silencioso, e entenda por que a vulnerabilidade, na verdade, pode ser a sua maior força.

A conversa sobre saúde mental, felizmente, tem ganhado mais espaço. Falamos abertamente sobre ansiedade, depressão e a importância do autocuidado. No entanto, um grupo em particular permanece à margem desse diálogo: os homens. O que os impede de acessar essa conversa? A resposta está em um conjunto de introjeções sociais, crenças enraizadas sobre o que significa "ser homem" que, historicamente, mais adoecem do que fortalecem. A primeira e mais pesada dessas introjeções é a de ser o provedor inabalável. A identidade masculina é frequentemente atrelada à sua capacidade de sustentar a família e de ser o porto seguro material. Essa performance é uma fonte de pressão avassaladora.

Quando a vida traz incertezas financeiras, a crise não é apenas monetária; é uma crise de identidade. O fracasso em prover é interpretado como um fracasso de valor pessoal.Associada a isso, existe a introjeção de ser o protetor onipotente. A sociedade, muitas vezes, espera que os homens sejam os escudos inquebráveis, prontos para resolver todos os problemas e garantir a segurança de todos ao seu redor. Essa expectativa, no entanto, colide com a realidade humana: homens não são onipotentes.

A incapacidade de proteger a família de uma doença, de um acidente ou de qualquer sofrimento – eventos que estão fora de seu controle – pode gerar um sentimento de fracasso avassalador. A vergonha se instala, levando ao isolamento e à negação do problema, pois admitir a dificuldade é visto como uma falha de caráter, algo que "um homem de verdade" não faria. O resultado é um sofrimento silencioso que raramente é verbalizado ou tratado, pois a "máscara" do provedor e do protetor tem que ser mantida a qualquer custo. Junto a isso, existe a introjeção mais perigosa: a de não acessar emoções.

Desde a infância, muitos homens são ensinados a reprimir a vulnerabilidade. Frases como "homem não chora" ou "seja forte" são, na verdade, ordens para desconectar-se de si mesmo. O espectro emocional é reduzido drasticamente, deixando apenas o que é considerado socialmente aceitável para a masculinidade: raiva, irritabilidade ou uma frieza calculada. Sentimentos de tristeza, medo ou insegurança não têm espaço. Essa repressão constante não faz as emoções desaparecerem; ela as sufoca até que explodam de forma destrutiva, seja através de explosões de raiva, de comportamentos de risco, do abuso de substâncias ou, em casos trágicos, do suicídio, que tem índices alarmantemente altos entre homens.

O caminho para uma saúde mental masculina mais robusta passa, inevitavelmente, pela desconstrução dessas introjeções. É preciso ressignificar o que significa ser forte. Força não é ausência de vulnerabilidade, mas a coragem de reconhecê-la. Não é sobre carregar o peso do mundo sozinho, mas sobre ser capaz de pedir ajuda e construir uma rede de apoio.

A verdadeira força de um homem não está em seu salário, em sua capacidade de proteger de todos os perigos ou em sua habilidade de esconder o que sente, mas em sua capacidade de se conhecer, de se expressar e de se conectar autenticamente com os outros e consigo mesmo.Atendendo homens em meu consultório, observo uma necessidade imensa e, muitas vezes, reprimida: a de um espaço de escuta sem julgamentos. Um lugar onde eles podem, finalmente, se permitir serem vulneráveis, sem a pressão de ter que "ser o forte".

A terapia é esse espaço seguro. É ali que a máscara pode ser retirada, e onde a jornada para uma vida mais leve e autêntica pode finalmente começar. Romper com o ciclo do silêncio não é apenas uma escolha pessoal; é um ato de libertação que beneficia não só os homens, mas a todos ao seu redor.

Esse é um artigo de opinião, de autoria própria redigido por Bárbara Hirle - Psicóloga CRP 06/209534

Reprodução autorizada, desde que seja atribuído o devido crédito, conforme a Lei de Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98).

Bárbara Hirle - Psicóloga Clínica © 2025. Desenvolvido por 🧡 Be Seven

Bárbara Hirle - Psicóloga Clínica © 2025. Desenvolvido por 🧡 Be Seven

Bárbara Hirle - Psicóloga Clínica © 2025. Desenvolvido por 🧡 Be Seven