Fibromialgia Sob a Lente da Gestalt-terapia: Um Olhar para o Corpo em Sofrimento

A fibromialgia, pela Gestalt-terapia, é mais que dor física: é o corpo expressando uma interrupção no fluxo de contato e autorregulação. A dor e a fadiga sinalizam emoções ou limites não expressos, uma energia voltada para dentro. Na terapia, focamos na consciência ("awareness") do paciente sobre essa dinâmica, usando o "aqui e agora" e a experimentação para entender o que o corpo comunica. O objetivo é a integração do sintoma, levando à aceitação radical e a um ajustamento criativo para uma vida mais autêntica e plena.

A fibromialgia, com sua dor crônica e difusa, fadiga exaustiva e uma miríade de sintomas que variam de pessoa para pessoa, representa um dos grandes desafios da medicina contemporânea. Frequentemente incompreendida e minimizada, essa condição impõe um sofrimento real que vai muito além do físico. Sob a perspectiva da Gestalt-terapia, a fibromialgia pode ser compreendida não apenas como um conjunto de sintomas, mas como uma expressão do organismo em seu campo total, um sinal de que algo está "enganchado" no fluxo contínuo do contato e da autorregulação.

Na Gestalt, o corpo não é visto como uma entidade separada da mente ou das emoções; ele é a fronteira de contato primária com o mundo e com o próprio self. É no corpo que as experiências são sentidas, integradas ou, no caso da fibromialgia, muitas vezes retidas e cristalizadas. O sofrimento fibromiálgico pode ser interpretado como uma interrupção no ciclo de contato, onde necessidades importantes do organismo não são plenamente satisfeitas ou expressas. A dor crônica e a fadiga podem ser a linguagem silenciosa de um corpo que clama por atenção a algo que foi negligenciado – talvez emoções não expressas, limites não estabelecidos, ou uma sobrecarga existencial que se manifesta somaticamente.

A pessoa com fibromialgia frequentemente se encontra em um estado de "retroflexão", um mecanismo de interrupção onde a energia que seria direcionada para o ambiente ou para a satisfação de uma necessidade é voltada para si mesma. A raiva não expressa, a tristeza não chorada, o cansaço não reconhecido se volta para o corpo, transformando-se em tensão muscular, pontos de dor e fadiga persistente. A rigidez física pode espelhar uma rigidez psíquica, uma dificuldade em ceder, em flexibilizar-se diante das demandas da vida ou das próprias emoções.

O papel do Gestalt-terapeuta, nesse contexto, é auxiliar o paciente a aumentar sua awareness (consciência) sobre essa dinâmica. A terapia se move para o "aqui e agora" da experiência do corpo: "Onde você sente a dor agora? Que sensações acompanham essa dor? Que emoção você percebe junto com a fadiga?" Através da experimentação em sessão – seja através de exercícios de consciência corporal, respiração ou vocalização – o paciente é convidado a explorar como a dor e a fadiga se manifestam e o que elas podem estar tentando comunicar.

Além disso, a Gestalt-terapia enfatiza a relação terapêutica como um campo seguro para explorar as polaridades (força vs. fraqueza, controle vs. entrega, atividade vs. repouso) que muitas vezes são um desafio para quem vive com fibromialgia. O terapeuta oferece suporte para que o paciente possa reconhecer e expressar suas vulnerabilidades, seus medos e sua raiva, permitindo que a energia retida encontre novos canais de expressão.

Ao invés de focar apenas na eliminação da dor, a Gestalt busca a integração do sintoma à totalidade da experiência do paciente. A dor, nesse sentido, torna-se um convite para o autoconhecimento, para a retomada da autorregulação organísmica. Não se trata de uma cura milagrosa, mas de um processo de aceitação radical da realidade do corpo e da vida, e de um ajustamento criativo para viver de forma mais plena e autêntica, mesmo com a presença da dor. A fibromialgia, vista pela Gestalt, é um chamado do organismo para que a pessoa se reconecte consigo mesma e com seu ambiente de uma forma mais consciente e integrada.

Bárbara Hirle - Psicóloga Clínica © 2025. Desenvolvido por 🧡 Be Seven

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